Luca Kumahara jogou o TMB Platinum - Campeonato Brasileiro no Absoluto F masculino. Fotos: Jayme Júnior.
Por Nelson Ayres e Paulo Rocha (Fato&Ação) – Assessoria de Imprensa CBTM
O início de um novo desafio, com o talento habitual e muita personalidade. Primeiro atleta transgênero do tênis de mesa brasileiro, Luca Kumahara – defendendo a Associação Cultural Nipo Brasileira de São Caetano do Sul/ Bunka-SP – disputou, nesta edição do TMB Platinum – Campeonato Brasileiro, em São Paulo, sua primeira competição no masculino, na categoria Absoluto F.
Para quem acompanha a trajetória de Luca, o resultado obtido na competição, cuja disputa chegou ao fim neste domingo (17), no Centro Paralímpico Brasileiro, é o que menos importa – foi eliminado nas oitavas de final com um revés por 3 a 2 para Danillo Pedra, que acabaria conquistando o título. O importante foi o começo de uma nova era em sua vida esportiva.
"Sábado, no jogo de estreia, comecei tranquilo. Porém, durante a partida, comecei com uma série de questionamentos pessoais, coisas da minha cabeça mesmo, e confesso que me atrapalhou um pouco, pois não consegui lidar bem com essas emoções. Mas acho que é algo normal, tenho que respeitar esse meu momento e saber que não é fácil passar por isso", confessou Luca, prosseguindo:
"Após tantos anos jogando com a Seleção, por clubes, eu achava que saberia lidar um pouco melhor com o nervosismo. Já passei por momentos tensos e fica um pouco de frustração por não saber lidar com isso agora. Ao mesmo tempo, sei que é uma situação nova, uma situação diferente para mim.
Luca afirmou que jogar no masculino é a realização de um sonho, poder estar na categoria à qual realmente sempre pertenceu. Segundo ele, neste domingo (17), o nervosismo já havia diminuído em relação à véspera. "Era uma estreia, e uma estreia especial. O importante é conseguir lidar com as emoções, cada vez mais, de uma forma melhor.
Recomeço
Começar do zero em uma categoria – no caso o Absoluto F, sem pontuação no ranking – para quem (no feminino) já viveu tantas experiências na modalidade, com disputas e conquistas importantes, para Luka Kumahara, tem ares de reconstrução.
"É diferente. Entre as duas decisões que eram possíveis, entre começar no masculino com a pontuação no ranking que eu tinha conquistado no feminino ou sem pontos na nova categoria, eu preferi desta forma que foi. Começar do zero. O mais difícil está sendo manter a calma. Não tenho pressa de chegar no Absoluto A, no B. Claro que quero atingir o mesmo nível dos últimos anos, sempre competi, estar brigando pelo pódio. Sei que nas categorias E, F, o estilo de jogo é diferente do que estou acostumado, até nos treinos. Tenho que me adaptar", disse Luca, que espera aprender bastante neste processo.
Ao mesmo momento em que Luca estreava no masculino, as finais do Absoluto A feminino aconteciam simultaneamente em disputa nas mesas do CPB, envolvendo antigas adversárias. Para Luca, tal fato não foi levado em consideração a ponto de mexer com suas emoções.
"Na verdade, nem lembrei disso, fiquei mesmo é torcendo pelas semifinalistas, para que fizessem grandes jogos. Elas estão lutando bastante, tentando elevar o nível do tênis de mesa do Brasil. Estarei sempre torcendo por elas. Esse ciclo já foi encerrado para mim", garantiu.
Luca não tem dúvidas do acerto da decisão que tomou. Segundo ele, as realizações no lado pessoal lhe dão a certeza de ter feito a opção certa. Ele esteve nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile, como torcedor, e admite que sentiu saudade do clima de competição.
"Estava mais acostumado com essas competições de alto nível, pela Seleção, nos últimos anos. Isso torna um pouco mais difícil ter que disputar novamente um Campeonato Brasileiro, estar aqui, ao invés de lá. Gostaria de disputar o Pré-Olímpico e ir a Paris... Mas não me arrependo da minha decisão, de forma alguma. Foram muitos mais prós do que contras, tenho isso bem claro na minha cabeça, esse ciclo foi encerrado", declarou.
Jogar a categoria Absoluto F, mesmo em outro gênero, causou certo "temor" em alguns dos novos adversários de Luca, que receiam ser superados por ele em razão de seu talento e sua história nas mesas.
"Realmente, alguns brincaram que vim jogar no Absoluto F e vou levar vantagem. Não tem nada disso, o jogo é jogado. Sei que todo mundo vai querer me vencer, estou ciente. Tenho que ir para cima e aceitar esse desafio", relatou Luca.
Mudanças
Com participações em três Olimpíadas e vários Campeonatos Mundiais, Luca Kumahara tem metas a conquistar nesta nova fase de sua carreira. Alguns desafios precisam ser superados, até mesmo na questão física.
"É uma diferença muito grande, ainda estou adaptando meu corpo às novas exigências do masculino. Estou tendo muitas mudanças físicas, o nível de exigência é outro. Ainda vou ter que esperar alguns campeonatos para saber aonde posso chegar. Estou iniciando uma caminhada, com calma, sem pressa, sabendo lidar com as mudanças do meu corpo e com a idade. Creio que dentro de meio ano eu possa me estabilizar, me harmonizar mais e pensar em objetivos mais claros, mais definidos", concluiu Luca, que revelou ter o desejo de, em breve, disputar uma Liga na Europa.
O processo
Luca Kumahara revelou ser transgênero em setembro do ano passado e recebeu apoio da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) e da comunidade olímpica. O próprio presidente da CBTM e vice-presidente da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF), Alaor Azevedo, brigou pelo reconhecimento internacional de sua mudança de nome e, posteriormente, também pela mudança de gênero, o que finalmente foi autorizado em agosto deste ano.
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