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ENTREVISTA DA SEMANA: Biriba, maior prodígio do tênis de mesa mundial, relembra carreira e elogia geração atual

Por CBTM

12/02/2015 20h58


Lenda do esporte brasileiro também revelou sonho de ser técnico

Da redação, no Rio de Janeiro (RJ) – 12/02/2015

Ubiraci Rodrigues da Costa, mundialmente conhecido como Biriba, nunca será esquecido pelos fãs do tênis de mesa, especialmente os brasileiros - seus feitos ainda quando criança nunca encontraram comparação na modalidade. Nesta entrevista, ele relembra esses grandes momentos, elogia o atual panorama do tênis de mesa brasileiro e revela o sonho de passar à jovens atletas o seu conhecimento, adquirido em 63 anos empunhando a raquete.

CBTM: Você ficou conhecido no mundo inteiro quando bateu dois campeões mundiais de tênis de mesa aos 13 anos, em 1958. Conte essa história para nós...

Biriba: Estava fazendo 50 anos da imigração japonesa no Brasil, então eles trouxeram o Toshiaki Tanaka e o Ichiro Ogimura, campeões mundiais dos quatros anos anteriores. Na época eu era “só” o campeão sul-americano juvenil, título que conquistei com 11 anos. Eu nunca tinha tido experiência internacional. Joguei a primeira contra o Tanaka (atual campeão mundial) e perdi, mas a partir do segundo jogo fui pra cima dele (risos). Foi coisa de garoto, que não tem noção de nada. Eles ficaram no Brasil cerca de um mês e eu joguei contra os dois em Santos, São José dos Campos, Marília e outras cidades. Contra o Tanaka foram sete jogos, quatro vitórias e três derrotas. Contra o Ogimura, que foi um dos maiores de todos os tempos, joguei cinco vezes, sendo quatro derrotas e uma vitória. Mas todas que perdi foram no tie-break, hein (risos).

Depois você ainda viria a realizar um feito incrível: superar outro campeão mundial, o Rong Guotan, só que dessa vez na China. E ele estava jogando em casa...

Sim, foi em Pequim, 1961. No dia anterior, ele tinha sido campeão mundial por equipes com a China e foi o primeiro título mundial do país. Depois que ganhei dele, chegou um telegrama do Jânio Quadros (então Presidente da República) lá no meu hotel, me parabenizando.

Mas esse não foi seu único Mundial, você foi a mais dois. Em um deles, tiveram o melhor desempenho do Brasil até hoje. 

Sim, em 1959 (Dortmund, Alemanha) e 1963 (Praga, República Tcheca, então Tchecoeslováquia). Naquela ocasião, em Dortmund, nós ficamos em sexto e eu ainda tinha 13 anos. Venci o (Radu) Negulesco, que era a sensação do torneio por ter vencido o campeão europeu (Benczik) e o vice (Sido). Ele tinha dois metros de altura, eu tinha um metro e meio (risos).  O Benczik depois foi técnico da Hungria e uma das primeiras seleções a bater a China, na década de 70. Em 1963, foi quando surgiu a técnica do top spin, que revolucionou completamente o esporte. Mesmo sem nunca ter ouvido falar daquilo, somente observando, eu fiquei no top 32 e só perdi para o terceiro melhor do mundo, o chinês Chou Lan-Sun. Não é como hoje, não havia intercâmbio.

Hoje em dia está muito diferente? Como você enxerga o panorama atual? 

Os atletas têm uma condição muito melhor, está sendo desenvolvido um grande trabalho. O Alaor (Azevedo, presidente da CBTM) tem esse mérito de abrir as portas lá fora, o que é muito importante. Com certeza, com isso os resultados virão e, mais do que isso, bons jogadores serão formados. Com certeza, não vai ser do dia para a noite, mas darão continuidade aos atuais membros da seleção. Temos que reconhecer o esforço deles, pois jogar no exterior não é nada fácil, viver sozinho, outra língua, essas coisas.

Mas voltando a falar do Biriba, você parou muito cedo. Foi por causa justamente dessas condições que não existiam?

Em Mundiais, parei com 17, mas a carreira mesmo foi aos 21. Parei por vários motivos, até alguns de ordem pessoal, mas um deles era não ter o intercâmbio necessário. Além disso, na época o tênis de mesa era por amor à arte mesmo, não dava para sobreviver,  a questão não era nem ficar rico. Então eu tive que trabalhar. Estudei, me formei em economia e contabilidade. Agora, já estou me aposentando, sou concursado da Secretaria da Fazenda.

Por que você acha que foi diferente praticamente de tudo que o tênis de mesa brasileiro apresentou até aqui, mesmo com outros grandes talentos?

Eu costumo dizer que o Biriba - vamos dizer assim, eu sou o Ubiraci e aquele garoto prodígio é o Biriba - é um chinês-brasileiro. Eu comecei aos seis anos de idade, coincidência ou não na mesma idade que eles costumam começar. Colocando um pouco a modéstia de lado, eu fui o precursor da terceira bola (jogada ofensiva em que se decide o ponto logo após o receber a devolução do saque) no mundo. Mas, apesar disso, meu grande diferencial era a confiança, e os chineses também têm isso, pois começam muito cedo. Eu ainda tive o fato de só jogar com adultos, desde o início. Tudo culpa do seu Hermínio, meu pai. Nossa família tinha uma padaria e ele abriu um clube de ping pong no segundo andar, foi ali que tudo começou.

Mas apesar do fim de carreira precoce, a paixão falou mais alto e você voltou a jogar.

É verdade. Dos 21 aos 28 eu abri mão totalmente do contato com o tênis de mesa, nem assisti. Mais tarde, me convidaram para ser presidente da Federação Paulista de Tênis de Mesa. Eu relutei um pouco, mas depois pensei que, se não desse certo, eu pedia pra sair e pelo menos me reaproximava do esporte que eu amava. E foi exatamente o que aconteceu (risos), durou seis meses. Logo depois disso, o Zeca (dirigente do São Caetano e tio de Eduardo Baroni, ex-jogador), me chamou pra jogar e eu aceitei. Quando cheguei no veterano fiquei invicto 14 anos em competições nacionais, de 1997 até 2010. Mas aí a coisa foi ficando muito séria, o pessoal ficava me desafiando, então resolvi parar de vez. Em 2008, no Mundial de Veteranos no Rio de Janeiro, fiquei em quinto, sendo eliminado pelo Kunz, um tcheco que tinha sido justamente meu primeiro adversário naquele Mundial de 1963. Mas de qualquer jeito foi muito bacana, valeu demais.

O que você está achando do tênis de mesa brasileiro na atualidade?

A gente fica contente de ver que o tênis de mesa está ativo e no caminho certo. Tenho uma grande admiração por todos os atletas da seleção, especialmente pelo Thiago (Monteiro), que é uma pessoa fenomenal e já tem uma longa carreira.

E o Hugo Calderano? Não poderíamos deixar de perguntar, afinal com 18 anos ele é o mais próximo que temos do Biriba hoje em dia. Venceu inclusive o Timo Boll, que já foi número 1 do mundo.

Eu torço muito por ele, realmente é um grande jogador e está numa grande escola, que é a Alemanha. Acredito que ele ainda pode nos dar muitas alegrias. Vencer o Boll não é pra qualquer um, ele vai trazer grandes resultados para o Brasil. Acho que dentro de um ano ele já deve estar entre os 30, quem sabe entre os 20 melhores do mundo.

Você contou que a aposentadoria está perto. Será que ainda veremos o técnico Biriba em ação, passando tudo que sabe sobre o tênis de mesa?

Não tive oportunidade de me dedicar à função de técnico ao longo da vida, mas é uma parte que eu gosto bastante. Eu começo a conversar e quando vejo já estou ensinando, ‘pega na raquete assim’, ‘bate na bola assado’ (risos). Eu tenho o sonho de passar todo o meu conhecimento, então quem sabe agora isso possa se concretizar.

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