Notícia

Chefe de família aos 16, paralímpico Marlison Silva inspira colegas com história de superação

Por CBTM

12/04/2015 17h50


Mesatenista disputou sua primeira competição nacional em casa

Daniel Leal e Matheus Quelhas, de Manaus (AM) – 11/4/2015

O sonho de se tornar atleta e mudar a realidade da família habita os pensamentos de muitos jovens de periferia do Brasil. Um deles é Marlison da Silva (Associação Atlética Adalberto Valle – AM), de apenas 16 anos, que além de morador de uma das áreas mais perigosas de Manaus (AM), sofreu paralisia infantil. Com muito trabalho e fé, ele vem realizando – através do tênis de mesa – um pouco desse sonho.

 Em novembro de 2014, em São Paulo (SP), Marlison sagrou-se campeão das Paralimpíadas Escolares com menos de um ano de tênis de mesa. A conquista faz o jovem ter esperança de chegar muito mais longe na modalidade.

“Eu estou confiando em Deus, foi muita luta pra conseguir chegar até aqui. Quando fui para as Paralimpíadas Escolares, não tinha nem uniforme e meu material estava velho. O Vivaldo (Serafim, treinador) bancou tudo. Ele é um pai pra mim. Nesse caminho tem muitas palavras de derrota: ‘você não vai conseguir, ele é muito forte, ele é campeão brasileiro’. Para mim o cara pode ser campeão olímpico, mas se o outro acreditar em Deus ele pode vencer os obstáculos”, declara, logo após sua estreia em competições nacionais.

Na 2ª edição da Copa Brasil 2015, em sua cidade natal, Marlison estreou com derrota diante do líder do ranking nacional da classe 6, o experiente Luiz Medina (Centro Social Chinês de São Paulo / Superar / Indaiatuba – SP) – o Kaíque, de 64 anos. Na sequência, outro revés para Goutier Rodrigues (ADEFA Amazonas – AM), de 37, que sagrou-se campeão logo depois. Nada que desanime o valente Marlison.

“Não tive medo de nada. Fiquei um pouco nervoso no começo do (primeiro) jogo, mas depois passou. Agora é treinar mais para na próxima Copa Brasil jogar bem de novo”, analisou, depois de receber palavras de incentivo de Medina.

O talento de Marlison não se limita a modalidade e foi descoberto pelo “pai” Vivaldo Serafim, que além de treinador e jogador da Associação Atlética Adalberto Valle, também é professor da rede municipal de ensino em Manaus. E antes de tirar do bolso os recursos para que o jovem brilhasse em São Paulo (as passagens foram pagas pelo governo federal), foi na sala de aula que seu caminho cruzou o de Marlison.

“Quando o conheci ele não estava alfabetizado. Eu fiz pré-alfabetização com ele, mas depois das férias ele voltou lendo tudo. Perguntei como ele tinha evoluído tanto e ele me respondeu que saiu lendo tudo que tinha pela frente”, recordou.

Vivaldo foi professor do atual pupilo por dois anos (2013 e 2014) em escola municipal no bairro Jorge Teixeira, zona leste da capital amazonense. Segundo dados do Atlas de Desenvolvimento Humano Municipal de 2006, que reuniu informações do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) baseadas no censo de 2000 do IBGE, a região contava com a menor renda per capita de Manaus (R$ 86,00) e 39% dos seus moradores poderiam ser considerados indigentes.

Em 2014, o PNUD divulgou um estudo atualizado, referente ao censo de 2010, no qual Manaus aparece em último no ranking de IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) entre as 16 regiões metropolitanas pesquisadas, com índice ainda menor do que de 2000 (0,720 contra 0,774 – sendo 1 o mais elevado). Os números podem assustar, mas tudo parece pequeno perto do tamanho da coragem e do potencial de Marlison.

“Eu e outro professor criamos um projeto de xadrez lá e quando o coloquei para jogar ele se destacou rapidamente. Pouco tempo depois foi campeão regional e estadual. Mas ele gostou mesmo foi do tênis de mesa. Como a escola não demonstrou apoio nenhum, eu banquei do meu bolso todas as despesas dele para ir às Paralimpíadas Escolares. Ele foi campeão e eles não deram nem um telefonema de parabéns. Depois disso eu saí (da escola), chegou num momento em que não consegui mais”, revelou Vivaldo.

Preocupado com a falta de estímulo para Marlison, fez questão de levar o jovem para o novo local de trabalho, que possui direção mais disposta a ajudar o garoto. O episódio é lembrado com clareza pelo mesatenista.

“O Vivaldo me falou assim: ‘a escola é muito boa, mas é longe. Você precisa fazer esse sacrifício que lá na frente vem a recompensa’.”, contou Marlison.

A nova escola fica na zona sul, a cerca de uma hora de ônibus de onde mora o adolescente. Ele estuda de manhã e de 16 às 21h treina no clube que representou nesta Copa Brasil. De quebra, ainda é responsável por levar a irmã de 11 anos e os dois irmãos de 9 para a escola e para os treinos, em viagem que dura mais uma hora.

As responsabilidades de Marlison vão além: atualmente, a aposentadoria que recebe do governo – cerca de 700 reais - é a única fonte de renda da família, que além dos três irmãos que já treinam tênis de mesa, ainda conta com um outro irmão, de 7 anos, e a mãe, desempregada.

Por ter sido campeão brasileiro nas Paralimpíadas Escolares, o mesatenista receberá a partir de agosto uma bolsa de 370 reais, que ajudará – e muito -, o sustento da família. Para se manter no esporte, conta com doações de todos os pais de colegas da Associação Adalberto Valle e se tornou um ‘xodó’ no clube devido à sua perseverança.

“Queremos que, no futuro, ele chegue à seleção brasileira. Ele é a renovação da classe 6 no Brasil e acredito que ele possa chegar lá. Mas ainda há muito trabalho a fazer”, concluiu Vivaldo. Pela trajetória dentro e fora das mesas, parece que ainda vamos ouvir falar muito de Marlison.

A Confederação Brasileira de Tênis de Mesa conta com recursos da Lei Agnelo/Piva (Comitê Olímpico do Brasil e Comitê Paralímpico Brasileiro) – Lei de Incentivo Fiscal e Governo Federal – Ministério do Esporte.

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