Notícia

ENTREVISTA DA SEMANA: Paco vibra com lembranças da conquista histórica de Hugo Calderano em Nanquim

Por CBTM

20/08/2015 23h15


Cubano começou a trabalhar com o mesatenista três anos antes e ainda se emociona ao falar sobre a medalha

Da redação, no Rio de Janeiro (RJ) – 20/8/2015

Consolidado na seleção brasileira e um dos principais mesatenistas das Américas, Hugo Calderano conquistava, há um ano, uma inédita medalha de bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Nanquim, na China. No entanto, no ponto da vitória, quem mais vibrou foi o técnico Francisco Arado, o Paco, que acompanhou não só este feito histórico como muitos outros na carreira do jovem carioca.

“Foi um momento único, incrível. Para mim, como técnico, foi sensacional, brigamos muito (para chegar ali). É uma emoção que até hoje ainda assisto o vídeo e quero pular (risos)”, afirma o treinador, antes de exaltar o grande trabalho realizado com o técnico da seleção, o francês Jean-René Mounie.

“O engraçado é que estou pulando porque o Jean-René estava na arquibancada. Nós dois fazíamos a preparação antes do jogo e eu estava comemorando com ele, que teve também uma importância fenomenal por toda a estrutura que montou com hotel perto do ginásio para o Hugo poder descansar sem precisar voltar para a Vila. Na preparação antes do jogo, ele conversava com o Hugo e comigo sobre estratégia. Montamos uma ótima equipe e foi emocionante demais”, revelou.

Ainda que a comemoração para lá de efusiva tenha chamado a atenção, para o treinador, o momento mais marcante foi ver a imagem da bandeira brasileira ao lado de duas das maiores potências da modalidade.

“Na hora das bandeiras serem hasteadas, tinha China, Japão e Brasil, então nós estarmos lá no meio dos asiáticos é muito emocionante. Qualquer treinador gostaria de viver e ter isso na lembrança”, recordou.

A atuação na carreira de Hugo Calderano começou, para Paco, muito antes da conquista em solo chinês – o início dessa parceria data de 2011, quando o mesatenista foi, aos 14 anos, morar em São Caetano do Sul (SP), onde fica o centro de treinamento da seleção brasileira.

“Ele passou a fazer parte do grupo e eu comecei também a trabalhar na seleção. Treinávamos em Nantes (França), jogávamos algumas etapas do Circuito Mundial infantil e juvenil. Ele começou a treinar com os melhores jogadores do país, (Gustavo) Tsuboi, Cazuo (Matsumoto), e mais da idade dele, como o Vitor (Ishiy). Também o Hideo (Yamamoto), que era muito bom jogador”, recorda Paco, sobre as primeiras viagens e os treinamentos diários com a então promessa, junto com a forte equipe de São Caetano.

Meses antes da medalha histórica, Calderano entrou no top 100 do ranking mundial com apenas 17 anos, fruto de uma final inédita do Grand Finals (etapa que reúne os melhores do Circuito Mundial juvenil) e duas medalhas de bronze nos torneios sub-21 dos Abertos do Qatar e do Kuwait. Para Arado, nada diferente do esperado.

“Em 2014, quando ele jogou no Kuwait e no Qatar, já dava para saber que poderia ser um grande jogador, até porque ele já tinha feito a final do Grand Finals, já tinha ganhado várias etapas do Circuito juvenil, tinha grandes resultados”, enumerou o treinador.

Hoje, um ano depois do sucesso em Nanquim e ocupando a 52ª posição do ranking, o técnico evita grandes projeções futuras, mas elogia a velocidade de aprendizagem do carioca.

“A cada ano ele surpreende a gente pela velocidade com que consegue melhorar”, apontou.

Outra grande qualidade de Hugo é sua frieza na mesa – e ele mostrou isto em Nanquim. Liderando a luta pelo bronze com 3 sets a 2 no placar e restando um para fechar o jogo, Calderano viu o taiwanês Heng-Wei Yang abrir vantagem e se aproximar do empate, mas conseguiu reverter e sair vencedor.

“Se fôssemos a 3 a 3 seria uma batalha dura, mas se tratando de Hugo eu sempre acredito. Ele sempre vai lutar até o fim, vai acreditar até o final, é um grande lutador e a capacidade dele mental de se recuperar e voltar, mesmo perdendo é muito boa, então sempre acreditei”, disse Paco, antes de completar sobre o ‘atual’ Calderano.

“Eu acho que é um diferencial dele como jogador. A cabeça dele para entender o jogo, aguentar a pressão e jogar momentos difíceis, ‘se virar’, como a gente diz. Isso é uma característica dele que faz a diferença”, garantiu o técnico.

E mesmo sendo um dos grandes responsáveis pelo sucesso de Calderano, o técnico e ex-jogador faz questão de dividir todos os méritos com os muitos envolvidos na formação do atleta.

“Isso é fruto do trabalho de toda uma equipe. Às vezes me perguntam se eu sou o treinador do Calderano, eu sempre digo que sou um dos treinadores. Teve o Fluminense, o São Caetano, agora o Ochsenhausen, os preparadores físicos, o avô Antônio, que veio morar com ele em São Caetano para ele poder treinar... Então todos proporcionaram esse resultado”, destacou Arado.

No ano que vem, Hugo Calderano enfrentará seu maior desafio na ainda curta, mas tão vitoriosa carreira: os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, sua cidade natal. Paco, que esteve com ele na primeira e bem sucedida experiência olímpica, aposta em uma boa performance de todos os brasileiros, sem fazer previsões.

“Acredito que ele tem condições de lutar, ele sempre vai vir para lutar. O nível é muito alto, (a competição para nós) é muito difícil, assim como para todos os países. Mas mostramos que temos condições de lutar com todos os países, não só ele, mas toda a equipe. Porém, temos que ir passo a passo, sem colocar expectativa para não atrapalhar”, afirmou.

Esperançoso em um futuro brilhante para o mesatenista, Paco se preocupa muito com o desenvolvimento do jovem no tempo certo. Segundo ele, só assim ele conseguirá atingir todo o seu potencial.

“Temos que lembrar sempre que é um jovem que tem muito a aprender e a evoluir, não podemos colocar toda a responsabilidade nas costas dele. Ele tem que seguir jogando em alto nível e sempre se divertir, aproveitar as competições, como faz atualmente”, lembrou o treinador.

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