Notícia

Exemplo de superação, Claudio Massad visita a Fundação Casa de sua cidade natal

Por CBTM

21/10/2015 21h54


Detalhando a experiência, o atleta salienta o papel educativo do esporte

Da redação, no Rio de Janeiro (RJ) – 21/10/2015

Determinação, superação e evolução: palavras-chave para definir Claudio Massad e as principais lições que um dos melhores mesatenistas paralímpicos da América Latina transmitiu em visita à Fundação Casa Nelson Mandela, de Bauru, na última sexta-feira (16). Defensor do potencial transformador do esporte, o jogador traçou um paralelo entre a sua história e a dos internos.

“Para mim, foi muito interessante, foi um choque de realidade. Eu nunca tinha entrado numa penitenciária, numa Fundação Casa. De certa forma, a trajetória deles é bastante similar à carreira de atleta. Eu aprendi muito mais com as minhas derrotas do que com as vitórias, e foquei em usá-las para evoluir. Foi isso que eu tentei passar para eles”, contou Claudio.

Troca enriquecedora e exercício mútuo de empatia, o encontro entre o atleta e os internos ocorreu a partir de um convite do professor de educação física da instituição, Jorge Cerigatto.

“O Jorge fez Educação Física comigo em Bauru. Ele começou a trabalhar lá há pouco tempo e queria que eu falasse da carreira, das conquistas, dos obstáculos que tive de superar”, disse Massad.

E não são poucos os triunfos e adversidades em seu caminho. O 27º colocado no ranking mundial da Classe 10 coleciona conquistas também na classe olímpica. Em 2014, foi duas vezes campeão paulista individual, campeão paulista de duplas mistas e campeão brasileiro do rating B, título que o levou à elite do tênis de mesa do país, o rating A.

Claudio descobriu, em 1995, uma lesão no joelho chamada Doença de Blount. Teve um desgaste ósseo na parte interna da perna esquerda e passou por cirurgia em 2001, mas ainda não pisa corretamente, tendo uma diferença de 3 cm de altura entre as pernas. Classificado para a Classe 10 em outubro de 2014, na França, conseguiu, logo em seu primeiro torneio, superar duas vezes o chinês Kong Weijie, à época o 10º colocado no ranking mundial.

Praticante de tênis de mesa desde os 13 anos de idade, o atleta cedeu às pressões sociais e afastou-se do esporte para ingressar no tradicional curso de Direito. Em 2008, um baque: a perda do irmão mais velho devido a uma pneumonia, tida por ele como a maior derrota de sua vida.

Claudio o acompanhou durante o período de internação, no qual o irmão confessou a ele que não era feliz por não ter tido coragem de fazer o que amava e aconselhou o caçula a correr atrás de seus sonhos. Faleceu alguns dias depois. No mesmo ano, Claudio iniciou o curso de Educação Física e profissionalizou-se no esporte.

Presidente, técnico e atleta da Associação Nova Era de Tênis de Mesa de Bauru, os esforços em desenvolver a modalidade e educar através do esporte são uma constante em sua vida.

“Fizemos uma demonstração, falei da modalidade, expliquei as regras, ensinei as técnicas... Contei toda a minha história e falei de todas as dificuldades que enfrentei na carreira. Tentei passar alguns exemplos, deixando claro para eles que, independentemente do que tenham feito, eles devem olhar para o futuro, aprender com os erros e tentar ser pessoas melhores”, contou Massad.

A experiência era novidade também para os internos, que aproveitaram bastante a oportunidade.

“A recepção deles foi bem calorosa. Eu imaginava que seriam mais retraídos, mas eles se divertiram bastante. A vida deles se resume ao quarto, às atividades e ao refeitório, e, para os que tem bom comportamento, há ainda o trabalho por lá. Então, é uma quebra na rotina”, relatou Claudio.

Sensível à trajetória de vida conturbada dos internos, Claudio sentiu que o encontro foi bem produtivo.

“Brincamos juntos, batemos bola. Chamou a minha atenção o material que eles têm lá, que é raquete de madeira e bolinha de desodorante roll-on. Saí de lá com a sensação de missão cumprida, de ter passado algo de bom pra eles: a noção de que eles podem sempre tentar evoluir. E é complicado, porque muitos lá já nasceram com pais traficantes, usuários de drogas... é difícil para eles”, afirmou.

Tendo isso em vista, Claudio fez um apelo à valorização do esporte e da educação, caminho para a recuperação de jovens infratores e para a construção da cidadania.

“É claro que cada um tem responsabilidade pelas suas escolhas, mas a sociedade influencia muito. Nós precisamos fazer algo para ajudar, para mostrar que a educação é o caminho. O esporte tem um papel fundamental nisso, porque ele mistura tudo: educação, saúde, inclusão social. A sociedade tem que olhar com mais carinho para eles, preocupando-se com a construção de cidadãos de caráter e a evolução do ser humano a partir da educação e do esporte”, concluiu.

A Confederação Brasileira de Tênis de Mesa conta com recursos da Lei Agnelo/Piva (Comitê Olímpico do Brasil e Comitê Paralímpico Brasileiro) – Lei de Incentivo Fiscal e Governo Federal – Ministério do Esporte.

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