Brasileiro de Verão: Após superar dificuldades e fazer 'caminho inverso', Piccolin afirma estar vivendo a realização de um sonho
Por CBTM
Gaúcho lembra infância complicada, quando chegou a morar na rua por um período, e mudança de rumo aos 33 anos de idade
Alexandre Araújo e José Augusto Assis, em Chapecó - 02/11/2016
Foto: Christian Martinez
Poder seguir um sonho, talvez, seja o objetivo de muitos. Alexon Piccolin (A/RAMPA–Associação Regional de Deficientes Físicos - RS), atualmente, garante com todas as letras que conseguiu. O caminho não foi nada fácil e teve uma trajetória, até certo ponto, inesperada. Mas o sorriso no rosto e os olhos marejados não escondem que o tênis de mesa o faz feliz. Para viver desse sonho, Piccolin superou uma hemiparisia - que deixou o lado direito com um déficit motor -, a fome e até mesmo um período vivendo na rua, passado que não esconde de ninguém. Pelo contrário, quer que um dia possa servir de exemplo.
O tênis de mesa entrou meio tardiamente na vida de Piccolin, mais precisamente quando ele tinha 33 anos. À época, era empregado de uma metalúrgica, onde atuava como técnico de segurança do trabalho e, nas horas vagas, tinha como hobby jogar uma partida de ping-pong com os companheiros de trabalho. O panorama começou a mudar quando recebeu um elogio de um dos adversários.
"Na empresa em que eu trabalhava, na hora dos intervalos das refeições, a gente jogava. Um dia, vi um rapaz com traços chineses, com uma raquete diferente e vi que ele fazia um saque diferente e tudo mais. Fiquei curioso. Quando jogamos, fiz um movimento e ele me elogiou, falou que eu jogava bem. Conversamos e pedi a ele indicação de lugares para treinar e um dos lugares que ele falou foi São Leopoldo. Saí de Caxias do Sul (RS), onde moro, para São Leopoldo (RS) e, de cara, conheci o Jorge Fanck, uma pessoa que se tornou muito importante para mim. Fiquei um ano inteiro saindo todos os finais de semana da Serra Gaúcha para ir à Região Metropolitana. Comecei a conhecer o pessoal, jogar, participar de campeonato e me destacar. Já em 2010, fiz a minha primeira participação em Brasileiros", disse ele.
A possibilidade de ter 100% do tempo dedicado ao esporte que aprendeu a amar aconteceu diante de um momento que, geralmente, representa um fim de um ciclo, mas que, para Piccolin, foi o começo de algo que lhe traria o prazer de viver novamente.
"Em 2015, houve cortes na empresa e fui um dos demitidos. Pessoalmente, acredito que já não vinha rendendo muito. Acordar para trabalhar me dava um nó na garganta, pois sabia que não era aquilo que me alegrava. Em 2009, tinha entrado na faculdade para fazer engenharia mecânica, mas, depois que saí da empresa, transferi para educação física e hoje estou estudando na área. Na época, alguns criticaram e disseram que eu não ganharia dinheiro, mas não adianta ter dinheiro se ele não está aliado à realização e felicidade", ressalta.
Na infância, Alexon chegou a ser engraxate, a vender picolé e até a capinar terrenos em Passo Fundo (RS), onde nasceu, e, diante de diversas dificuldades, questionou o motivo de estar vivo. O discurso, porém, mudou e hoje uma das palavras mais usadas por ele é "dignidade". Dignidade essa que parece ter encontrado no estender da mão ao próximo, como nas aulas de tênis de mesa que deu de forma gratuita por quatro anos.
"Eu tinha tudo para dar errado, mas acredito que tenha feito as escolhas certas, mesmo tropeçando às vezes. Quando você não tem o apoio familiar, vive em um meio social turbulento, é muito complicado ver o horizonte, você acha que não merece algumas coisas. Você se pergunta muita coisa. O tênis de mesa me deu a oportunidade de mostrar o meu melhor, me trouxe dignidade. O esporte tem disso: traz vida a quem não tinha mais vida e esperança a quem não tinha mais esperança. Hoje, poder ajudar a diversas crianças é algo que não tem preço. É uma satisfação enorme e espero poder fazer mais", avisa ele, que completa:
"O tênis de mesa faz todos serem iguais. Quando estamos à mesa, independentemente de qualquer coisa o deficiência, somos iguais! Isso é muito importante e foi um dos motivos pelo qual me apaixonei pelo esporte".
Toda a dedicação ao esporte ganhou um capítulo importante. Este ano, no dia em que a tocha olímpica chegou a Caxias do Sul, Piccolin foi uma das pessoas homenageadas pela Câmara de Vereadores da cidade o que, assegura ele, é um motivo de grande orgulho:
"Poder ser lembrado dessa forma é algo que me traz uma gratificação enorme. Fico feliz e sei que ainda temos muito a fazer pela frente".
A Confederação Brasileira de Tênis de Mesa conta com recursos da Lei Agnelo/Piva (Comitê Olímpico do Brasil e Comitê Paralímpico Brasileiro) – Lei de Incentivo Fiscal e Governo Federal – Ministério do Esporte.
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