Hugo Calderano é fruto de um trabalho iniciado há dez anos. Foto: Marcelo Alves.
Por Assessoria de Imprensa - CBTM
O brasileiro Hugo Calderano fez história na Olimpíada de Tóquio, ao chegar nas quartas de final da competição. Foi o melhor resultado de um mesa-tenista do Brasil em Jogos Olímpicos. Até então, a melhor marca era disputar as oitavas de final do torneio individual, resultado conquistado somente pelo próprio Calderano, por Hugo Hoyama e, a partir desta edição, por Gustavo Tsuboi. O crescimento do tênis de mesa no país não veio do dia para a noite: é fruto de um projeto que começou há 12 anos, planejado com investimento e organização pela CBTM e batizado de Rota do Alto Nível.
Ao todo, somente no case Calderano, a CBTM investiu R$ 4 milhões, metade deste valor nos últimos três anos. Hoje, o atleta já recebe vários investimentos privados de parceiros que se interessaram em associar suas marcas ao craque das mesas ao longo do tempo, além de contar com premiações em cada torneio internacional que participa. Uma inspiração para jovens atletas que querem se dedicar ao esporte.
Mas, para que Calderano chegasse à sexta posição do ranking mundial, muitos passos foram trilhados. O talento do atleta é inegável, mas foi preciso também dar estrutura e possibilidades para seu crescimento. Para traduzir o que foi feito, Alaor Azevedo, presidente da CBTM, traz um exemplo simples: compara o jovem mesa-tenista nascido no Rio de Janeiro a outro carioca, o craque Zico, que fez sucesso com a camisa do Flamengo.
“O Zico foi um atleta que tinha dificuldades musculares. E o Flamengo preparou o Zico para chegar onde chegou. Com o Calderano foi a mesma coisa. Um atleta talentoso, mas que teve várias oportunidades que outros atletas do tênis de mesa não tiveram. Tudo isso foi em função de um planejamento, que nós pudemos implantar”, conta Azevedo.
Para explicar a fórmula do sucesso de Calderano, é preciso voltar no tempo. O planejamento começou ainda em 2009, quando o Rio foi escolhido como sede para a Olimpíada de 2016. Com a cabeça já no futuro, a CBTM sabia que teria mais investimento no esporte e começava a trilhar o caminho.
É neste momento que entra na história o francês Michel Gadal, técnico consagrado que ajudou seu compatriota Jean-Philippe Gatien a se tornar campeão mundial e medalhista olímpico aos 23 anos, nos anos 90. Com o sucesso como treinador, Gadal criou o projeto Rota do Alto Nível, uma fórmula para profissionalizar e gerar frutos para atletas do tênis de mesa. Foi esse o caminho escolhido para Hugo Calderano e para os atletas da Seleção.
A ideia da CBTM, segundo Azevedo, era estruturar esse projeto para Calderano até 2020. Foi Gadal quem indicou Jean-René Mounié, técnico custeado pela CBTM para acompanhar o brasileiro com exclusividade e que já treinou a Seleção Brasileira. Com ele vieram também profissionais da fisioterapia, psicologia, além de sparrings. Os profissionais recebiam por dia de trabalho, mas a intensidade e a qualidade valiam por meses.
Calderano começou no Fluminense, mas foi encaminhado para treinar no São Caetano, que funcionava como a base da Seleção. Enquanto isso, outros projetos eram desenvolvidos para dar suporte a outros talentos do esporte. O São Caetano, inclusive, foi um deles: depois de uma articulação com a Prefeitura da cidade, o clube ganhou um ginásio para treinamentos e passou a ser um dos focos da CBTM, com equipamentos especiais.
“São Caetano passou a ser um celeiro de talentos. Sobravam mesas para escolinha, para outros atletas, mas era um centro de alto rendimento. Os mais jovens treinavam ao mesmo tempo em que Calderano, Gustavo Tsuboi e outros. Bruna Takahashi, muito jovem, treinava na mesa 1, enquanto via o Calderano na 2. Era uma inspiração, um estímulo para avançar”, explica Azevedo.
A ideia era que o clube funcionasse como uma introdução para os atletas ao esporte de alto rendimento. As coisas começaram a ser levadas a sério e o momento seria o trampolim para voos maiores.
“Quando o Hugo Calderano foi para São Caetano, que era nossa base, estabelecemos que ele ficaria um ano para melhorar sua preparação física. O tênis de mesa exige muito. Depois desse um ano, ele iria morar em um centro de treinamento em Paris. Michel Blondel também era o treinador neste local da França. Depois, todos foram para o Ochsenhausen, na Alemanha”, relembra Alaor Azevedo.
A dinâmica de evolução na Europa já era uma fórmula conhecida pela Confederação. Hugo Hoyama havia feito o mesmo na Bélgica, assim como Thiago Monteiro, na França. A proposta para Calderano, com mais investimento, era também mais ambiciosa: traçar um caminho para vários outros atletas. Na mesma época, Gustavo Tsuboi e Vitor Ishiy também seguiram para a Europa.
O crescimento, ano a ano, foi substancial. Em 2009, Calderano estava próximo da 1.300ª colocação no ranking. Dez anos depois, em 2019, já era o 6º do mundo. “Foi um crescimento consistente até chegar lá. A gente já sabia que, em 2019, ele teria de estar entre os melhores e o mais difícil seria manter. E ele conseguiu manter a posição Top 10 durante quase três anos. Outro grande desafio era que ele chegasse em Tóquio como o quarto cabeça de chave. Era importante para ele ficar entre os quatro, para não pegar um chinês até a semifinal. Foi o que aconteceu”, diz o presidente da CBTM.
Para que tudo corresse perfeitamente, era preciso investimento financeiro para dar segurança ao atleta. De 2009 até 2021, Calderano podia participar de todos os eventos e tinha o apoio da CBTM com uma bolsa e também com o conforto nas viagens. A partir de 2016, Jean-René Mounie passou a ser, de forma definitiva, um treinador da CBTM para planejar e acompanhar Calderano, inclusive em treinamentos específicos no seu clube.
Entre 2012 e 2018, foram investidos R$ 1,93 milhão em Hugo Calderano. A partir de 2019, foram mais de R$ 600 mil por ano, com um total superior a R$ 800 mil em 2021. A verba aplicada pela CBTM corresponde a, aproximadamente, 25% do total de recursos recebidos através da Lei das Loterias. Os valores envolveram pagamentos de treinador e outros membros, viagens internacionais, além de uma bolsa para o atleta – que inclusive pode viajar de classe executiva, proporcionando mais conforto em longos trajetos, fundamental por causa de sua altura – e a infraestrutura disponibilizada. Para o presidente da CBTM, o objetivo era trazer mais pessoas para o esporte e fazer outras pessoas acreditarem no tênis de mesa. “Estar entre os oito melhores dos Jogos Olímpicos e ter dois atletas entre os 16, é muito importante”, destaca.
“Hoje nós temos cerca de 60 atletas, contando com os paralímpicos, vivendo do tênis de mesa. Nossa equipe é a sexta do mundo. Em 2009, a gente era 36º, 38º colocado. Nós éramos da Terceira Divisão. Em 12 anos, saímos da terceira para a primeira e chegamos ao Top 10. Graças a esse planejamento estratégico, graças aos recursos da Lei, COB e Ministério do Esporte, durante um bom tempo”, completa Alaor Azevedo.
A evolução se estende também para o esporte paralímpico, onde o avanço é ainda maior. O Brasil está, hoje, entre as cinco melhores equipes do mundo. A Rota do Alto Nível, segundo o dirigente, também está presente para os paratletas.
“No paralímpico, o sucesso foi ainda mais estrondoso. Em 2016, ganhamos quatro medalhas paralímpicas. Fizemos a Rota de Alto Nível e começamos a tratá-los como atletas profissionais”, reforça.
Investimento para o futuro
Mesmo depois do fim da parceria com Gadal, a metodologia da Rota do Alto Nível continua a ser implementada pela CBTM. A continuidade acontece por meio do projeto Diamantes do Futuro, que busca garimpar novos talentos do tênis de mesa Brasil afora. Além disso, foi criada também a Universidade do Tênis de Mesa, que já formou 90 treinadores, além dos Polos de Desenvolvimento Regionais, com materiais utilizados nos Jogos Olímpicos de 2016.
“Esse modelo, do Calderano, vale para todas as modalidades individuais. É fundamental que você comece a trabalhar com o atleta, desde o início, dando condições reais para ele. Com equipamento, borracha, raquete, mesas para ter o rendimento máximo”, explica o presidente da CBTM.
Os novos frutos do Diamantes do Futuro já começaram a aparecer. Um exemplo é Giulia Takahashi, que integrou a delegação brasileira em Tóquio, como reserva da equipe feminina, aos 16 anos. Ela está entre os principais atletas de base da CBTM, ao lado de Laura Watanabe, de 17 anos, e Leonardo Iizuka, de 15 anos, todos integrantes do Programa de Desenvolvimento de Talentos. Ao todo, o trio conta com um aporte de cerca de R$ 300 mil a R$ 400 mil reais por ano, também com recursos da Lei das Loterias, repassados pelo COB para as confederações esportivas.
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