Por CBTM
Faltavam apenas 18 dias para a abertura dos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996), quando o esporte brasileiro sofreu uma de suas maiores baixas. O mesatenista Cláudio Kano, que traçava planos de ficar entre os oito primeiros colocados de seu esporte na Olimpíada, foi vítima de acidente de trânsito na Marginal do Pinheiros. Fechado por um carro, ele bateu no guard-rail e morreu aos 31 anos. Cedo demais para quem ainda tinha muito a fazer pela modalidade.
Seria a terceira Olimpíada de Kano, que por seis anos (de 1980 a 1986) treinou e defendeu São Bernardo, e já havia colocado o Brasil em destaque com dois sextos lugares em campeonatos mundiais (1987 e 1989), seis títulos sul-americanos e, até então, o maior medalhista do País em Jogos Pan-Americanos, com 12 medalhas, marca que foi superada por Hugo Hoyama, no Pan do Rio, em 2007.
Hoyama, além de grande admirador de Kano, foi seu companheiro de Seleção Brasileira.
--- Jogamos juntos por dez anos e eu aprendi muito com ele. Naquele tempo (anos 1980), o material esportivo era muito difícil de ser obtido. Ele tinha patrocínio de uma empresa japonesa e dava muita coisa para mim e para os outros jogadores --- recorda.
Hoyama reverenciou o amigo no Pan do Rio, quando conquistou sua 13ª medalha na competição, dedicou a Kano e caiu no choro.
--- Até hoje muita gente lembra dele. O Cláudio deixou muita coisa boa. Se o nosso esporte tem alguma divulgação hoje, é por causa dele. Procuro seguir seus passos --- contou Hoyama, que seguiu ontem para um torneio no Japão e tem planos de disputar a Olimpíada de Londres, ano que vem.
Técnico de S.Bernardo usa antigo rival como exemplo a alunos
--- Nos enfrentamos por algumas vezes e fui derrotado em todas.
Desta maneira, tranquilo e sem o mínimo rancor, o técnico da equipe de tênis de mesa de São Bernardo, Fábio Almeida, 38 anos, relembrou confrontos com Cláudio Kano.
--- Na América, ninguém ganhava dele. Era imbatível.
As 12 medalhas conquistadas em Pan-Americanos e as diversas outras conquistas do mesa-tenista servem até hoje ao professor, que passa a história de Kano aos alunos como forma de incentivo.
--- Ele é exemplo para os garotos novos e sua história é contada ano a ano para servir como motivação. O jeito como se esforçava, treinava e corria atrás dos objetivos é que o fez colocar o tênis de mesa em alto nível.
A influência de Cláudio Kano, segundo Almeida, foi fundamental ao esporte no País.
--- Ele abriu caminho para o Brasil. A Ásia e a Europa sempre foram muito fortes no tênis de mesa. Méritos totais dele sair de um país sem tradição e chegar a um dos 40 melhores no ranking mundial --- concluiu.